quarta-feira, junho 29, 2005

Companheira Dalva, ex-comissária do povo para minas e energia

Trabalho no setor elétrico, então me sinto um pouco mais confortável para criticar a postura da companheira Dalva no cargo de ministra.

Para quem observa as primeiras linhas do novo modelo para o setor elétrico, elaborado parcialmente pela administração de nossa companheira de armas, vê que a coisa começa errado na essência.
O objetivo da regulação, ao contrário do que reza o bom senso, não é tolher a má concorrência e práticas anti-mercado mas sim a MODICIDADE TARIFÁRIA.

Deixe-me traduzir o que é modicidade tarifária.
A coisa é simples: basicamente não importa o que acontecer, não importa o quanto chova e pra quanto descambe o preço do petróleo... o consumidor não deverá sentir estas flutuações, ou pelo menos deve ser amortecido das maiores delas.

Na verdade o que acontece é que o consumidor é poupado por um lado e esfaqueado do outro. Um belo exemplo é do apagão. Em que em uma crise de solvência do sistema recém-privatizado (diga-se de passagem, privatizado na porrada) o BNDES entrou garantindo tudo com jurinhos camarada adoçados pelo nosso bolso, naturalmente.

O que ocorre hoje no setor elétrico é uma tendência clara a reestatização “parda” (eu adoro este termo). Ou seja, tudo bem que não fica bonito (pelo menos agora) reestatizar tudo no pau. O modelo está rodando decentemente e o governo não teria condições de gerir o sistema todo de novo. Mas o novo modelo, claramente, está em parte inviabilizando a rentabilidade dos investidores que já entraram. Dessa forma, em alguns anos os que não aumentarem sua exposição no Brasil (não investirem para tentar recuperar as perdas) estarão saindo da região e entregando as suas concessões.

A patuléia gosta de falar que as empresas não investem no setor, que só querem ganhar e ir embora com o dinheiro. Mas qual é o gringo bípede que entraria com dinheiro novo em um setor em que não há uma regulamentação clara, em que os contratos são desrespeitados em nome dos mais variados interesses (os exemplos práticos estão aí pra quem quiser ver), nem sempre os mais cristãos, e que o risco político e regulatório (inclusive externo pela interconexão com outros países da AL) é uma realidade que bate a porta constantemente.

Novamente a esquerda em nome dos mais sublimes objetivos chega nos mais terríveis resultados.
PS: O próximo apagão está próximo. Se nós continuarmos crescendo a 3,5% aa vamos chegar no apagão antes de 2008.